Em setembro, o Descubraminas sintoniza as ondas do rádio e pega uma carona no maravilhoso bazar do radialista, ícone do rádio mineiro, Tutti Maravilha.
"A arte produzida em cada pedaço de terra dessa nossa Minas é única
e merece ser conhecida e visitada!"
Por Roberta Almeida
Descubraminas - Você nasceu em Belo Horizonte e passou a infância no tradicional Barro Preto. As experiências nesse bairro da capital marcaram sua vida de que maneira?
Tutti Maravilha - O Barro Preto era um bairro muito especial em vários sentidos... Pela proximidade ao centro de consumo da cidade, a gente chamava a região central de "cidade"... "Vamos na Cidade" era ir na Avenida Afonso Pena, por exemplo.
Outro detalhe que marcou muito é que o Mercado Central era o nosso armazém ou nosso "Super-mercado". Com isso tínhamos na mesa verduras fresquinhas e o que há de melhor no Mercado Central. Era muito bom!
DM - Você se formou em jornalismo e, desde então, coleciona histórias ligadas à profissão. Qual foi o caso mais marcante de sua carreira como radialista?
TM - Tenho muitas histórias. Histórias ligadas principalmente ao meu período de produtor de shows e no rádio, pois já são 28 anos diários na Rádio Inconfidência. Imagine, você, década de 70, poucos teatros e eu tentando trazer semanalmente um artista para a cidade, e tudo sem leis de incentivo e nem patrocinadores.
Tudo acontecia e tudo, no final, se ajeitava, dava certo! No Rádio, faço um programa ao vivo com duas horas de duração e diário. Como diz uma amiga minha, "você faz um show por dia para uma plateia de mais de 10 mil pessoas"... E tudo acontece porque tudo é ao vivo... Ou seja, tenho histórias e histórias.
DM - Admirador do "Clube da Esquina", você ajudou a alavancar a carreira de artistas que fizeram parte desse movimento e hoje são reconhecidos nacional e internacionalmente. O que o "Clube da Esquina" significou e significa hoje para a música brasileira?
TM - O "Clube da Esquina" é um dos movimentos mais importantes que nossa música já viveu... Ele conseguiu, de uma só vez, reunir a nata de músicos e criadores que nunca mais tivemos... Pronto, falei!
DM - Você foi produtor e amigo de Elis Regina. Inclusive, apresenta diariamente em seu programa "Bazar Maravilha", na Rádio Inconfidência, o quadro "Coisa de Comadre", onde executa duas músicas interpretadas pela cantora. Qual é sua melhor lembrança da época em que conviveu com Elis?
TM - Minha melhor lembrança daquela "Baixinha" é saber que fui um privilegiado, tive a honra, o prazer de ter convivido diariamente com ela... Acho que um tanto que sei hoje da nossa música vem dela. Agradeço todos os dias!
DM - No carnaval desse ano, você foi tema da escola de samba "Cidade Jardim", embalando pelas ruas da capital o enredo "Tutti Maravilha, nós sambamos com você". Qual foi sua reação ao saber que seria homenageado dessa maneira?
TM - A primeira reação foi de espanto, susto! E quando a ficha caiu mesmo, veio a choradeira. Joãozinho Trinta dizia que "a maior homenagem que um homem brasileiro pode receber em vida é ser tema de uma Escola de Samba". Ele tinha toda razão... Pense? É a sua história contada numa avenida, com alegria, com cores e com o samba, nosso ritmo maior. É tudo de bom! Até hoje acho que vivi um sonho!
DM - Sempre envolvido com o meio cultural, você já conduziu o projeto "Expresso Melodia", que levava shows para bairros de Belo Horizonte e para o interior de Minas Gerais. Em sua opinião, como essas iniciativas ajudam a desenvolver as cidades mineiras como destinos culturais?
TM - Qualquer iniciativa cultural em qualquer parte desse país será sempre bem-vinda. Esse Brasil é imenso e cheio de extraordinários artistas. O que o artista, o criador precisa é de visibilidade, de um espaço para ele mostrar sua arte e poder também conhecer a de outros. A arte produzida em cada pedaço de terra dessa nossa Minas é única e merece ser conhecida e visitada! Era isso que o "Expresso Melodia" fazia.
DM - Para quem não sabe, seu nome é Ailton José Machado. De onde veio o divertido apelido "Tutti Maravilha"?
TM - O "Tutti" veio de turma de adolescente. Uma querida amiga leu um livro que tinha um gatinho chamado Tutti, começou a me chamar assim e pegou.
O "Maravilha" surgiu quando eu era produtor de shows através do jornalista Edmar Pereira, que colocou em uma matéria no caderno de cultura do extinto jornal "Diário de Minas", o título "Tutti Maravilha, traz mais um pra gente ver!".
A música "Fio Maravilha", do Jorge Bem Jor, acabava de tirar o primeiro lugar no Festival Internacional da Canção/Fase Nacional, defendida por Maria Alcina, e dizia: "Fio Maravilha, faz mais um pra gente ver!".
DM - No mês de julho, o "Bazar Maravilha" completou 28 anos. Qual é o segredo dessa maravilha toda?
TM - Segredo? Não sei se existe segredo. Mas garanto que existe muito tesão e vontade de ver a nossa cultura cada vez mais perto de todos. E o Rádio faz isso! Eu simplesmente ajudo a remar a canoa.
Papo de Mineiro!
DM - Quem é ou foi verdadeiramente mineiro?
TM - Ichi! São tantos, em tantas áreas. Pra não ficar calado, falo de Drummond... Falo de Adélia Prado, Fernando Brant, Guignard, Tavinho Moura e tantos outros maravilhosos.
DM - Aquela música que tem a alma de Minas?
TM - A canção "Fazenda", do Nelson Ângelo, foi a primeira que veio. Se pensar mais, vem mais umas oitocentas... Rs.
DM - Adoro um bom prato de...
TM - Salada com muitas folhas e verduras e um bom azeite para temperar. Ou um bom prato de doce. Sou formiguinha... Rs.
DM - Para quem visita Minas, o que você diz ser imperdível?
TM - Visitar nossa Diamantina, cidade colorida e cheia de histórias para contar, além de nossas belas cachoeiras.
DM - Em uma viagem, o que você leva na bagagem para presentear?
TM - Levo eu! Rsss... Pago pra não ter bagagem grande.
DM - Qual artista melhor representa Minas Gerais?
TM - Para essa, vamos precisar de mais umas dez páginas... São muitos!
DM - Atlético, Cruzeiro ou América?
TM - Galôooo! Mas o mundo é grande e você pode ser o que quiser.
DM - Fim de semana na cidade grande ou na roça?
TM - Na roça.
DM - Quando estou fora morro de saudades de...
TM - Amigos e da minha cama.
DM - O que nunca sai da moda em Minas?
TM - Acho que é o nosso queijo com a goiabada de Ponte Nova. Hummm...
DM - Minas Gerais é...
TM - É onde eu nasci... Hoje se você me perguntar onde quero ficar, respondo: "Aqui em Minas". Amanhã tudo pode mudar, mas Minas ainda continua tendo um espaço macio e agradável no meu coração. Pronto, falei! Rsrs...