Cronologia
Nasceu: 29 de fevereiro de 1922
Faleceu: 02 de julho de 1991
Filiação: Mário Mendes Campos e D. Maria José de Lima Campos
Natural de São João del-Rei/MG
Formação
Curso Ginásio - Colégio que foi quartel colonial, perto de Cachoeira do Campo e Ouro Preto
Atividades
Escritor
Cronista
Escreveu artigos para os jornais ‘Correio da Manhã' e ‘Diário'
Trajetória de vida
Integrava o famoso quarteto mineiro com os amigos Fernando Sabino, Hélio Pellegrini e Otto Lara Resende.
Casou-se com uma inglesa e teve dois filhos.Paulo Mendes sofreu um fulminante derrame cerebral e morreu de enfarte, em 1991.
Principais obras
A palavra escrita (1951)
O domingo azul do mar (1958)
Testamento do Brasil (1966)
Diário da Tarde (1981)
Poemas (1984)
Poema e Crônica
Soneto de Paz
‘Cismando, o campo em flor, eu vi que a terra
Pode ser outra terra, de outra gente,
Para o prazer armada e competente
E desarmada para a voz da guerra.
No chão, olhando o céu que nos desterra,
Sem terminar falei, presente, ausente,
Ó vento desatado da vertente,
Ó doce laranjal sem fim da serra!
Mais tarde me esqueci, mas esse instante
De muito antiga perfeição campestre
Fez-me constante um pensamento errante:
Era o sem tempo, a paz da eternidade
Unindo a luz celeste à luz terrestre
Sem solução de amor e de unidade'.
In: O Domingo Azul do Mar
Segredo
‘Há muitas coisas que a psicologia não nos explica. Suponhamos que você esteja em um 12º andar. Em companhia de amigos, e, debruçando-se à janela, distinga lá embaixo, inesperada naquele momento, a figura de seu pai, procurando atravessar a rua ou descansando em um banco diante do mar. Só isso. Por que, então, todo esse alvoroço que visita a sua alma de repente, essa animação provocada pela presença distante de uma pessoa da sua intimidade? Você chamará os amigos para mostrar-lhes o vulto de traços fisionômicos invisíveis: ‘Aquele ali é papai'. E os amigos também hão de sorrir, quase enternecidos, participando um pouco de sua glória, pois é inexplicavelmente tocante ser amigo de alguém cujo pai se encontra longe, fora do alcance do seu chamado.
Outro exemplo: você ama e sofre por causa de uma pessoa e com ela se encontra todos os dias. Por que, então, quando esta pessoa aparece à distância, em hora desconhecida aos seus encontros, em uma praça, em uma praia, voando na janela de um carro, por que essa ternura violenta dentro de você, e essa admirável compaixão?
Por que motivo reconhecer uma pessoa ao longe sempre nos induz a um movimento interior de doçura e piedade?
Às vezes, trata-se de um simples conhecido. Você o reconhece de longe em um circo, um teatro, um campo de futebol, e é impossível não infantilizar-se diante da visão.
Até para os nossos inimigos, para com as pessoas que nos são antipáticas, à distância, em relação ao desafeto, atua sempre em sentido inverso. Ver um inimigo ao longe é perdoá-lo bastante.
Mais um caso: dois amigos íntimos se vêem inesperadamente de duas janelas. Um deles está, digamos, no consultório do dentista, o outro visita o escritório de um advogado no centro da cidade. Cinco horas da tarde; lá embaixo, o tráfego estridula; ambos olham distraídos e cansados quando se descobrem mutuamente. Mesmo que ambos, uma hora antes, estivessem juntos, naquele encontro súbito e de longe é como se não se vissem há muito tempo; com todas as graças da alma despertas, eles começam a acenar-se, a dar gritos, a perguntar por gestos o que o outro faz do outro lado. Como se tudo isso fosse um mistério.
E é um mistério'.
In: Livro: Para Gostar de Ler, volume 4 - Crônicas