A neblina vem descendo lentamente pelas montanhas e vai envolvendo ternamente as antigas casas da bucólica Lavras Novas, cheia de lendas e histórias. Por duzentos anos, esse arraial ficou esquecido por visitantes, historiadores e órgãos públicos. Agora, todos os olhares se voltam para ele. Esse isolamento, tão longo, tornou-se benéfico à medida em que preservou seu patrimônio cultural.
Lavras Novas teria sido um quilombo? É uma questão que gera polêmica. Apesar de não existir nenhum documento nos arquivos de Ouro Preto, a questão é sustentada por algumas pessoas que se apegam ao fato do local ser habitado por muitos descendentes de negros.
A chamada “Lavras Novas do Coronel Furtado“ já era um núcleo populacional em 1716, devido à exploração do ouro. Seu nome, inclusive, evoca mineração. Lavra tem os seguintes significados: exploração comercial de uma jazida; local de onde se extrai metal ou pedras preciosas; terreno de mineração. O Coronel Furtado, que aparece no nome original da localidade, é referente ao Coronel Salvador Fernandes Furtado de Mendonça, responsável pela descoberta do ouro no Ribeirão do Carmo em 16 de julho de 1696, e que deu origem à cidade de Mariana. Segundo o historiador Diogo de Vasconcelos, por volta de 1704, o Coronel Furtado incumbiu seus filhos de organizarem novas expedições ao sul do Ribeirão do Carmo. Dessa empreitada, foram descobertas as minas do Pinheiro, Bacalhau e dos Prazeres. “O Ribeirão dos Prazeres corre atrás do Pico do Itacolomi e passa em Lavras Novas, nome que lhe deu o Coronel.” (Diogo de Vasconcelos).
A Matriz de Nossa Senhora dos Prazeres já estava construída em 1740, o que demonstra que o arraial estava em pleno desenvolvimento. Mas, como todos os demais locais, o colapso da região mineradora atingiu o arraial de Lavras Novas na década de 80 do século 18. Uma versão para a grande quantidade de descendentes de negros é que estes teriam ocupado o local após os senhores de lavras terem abandonado a localidade com a decadência da produção aurífera. É possível que os quilombos tivessem sido organizados nas proximidades, já que a geografia, ali, proporciona locais favoráveis para esconderijos.
Há registros de que, no final do século 19, parte da população de Lavras Novas já exercia a atividade tropeira, levando principalmente lenha para Ouro Preto, enquanto outra se dedicava à agricultura e pecuária através de trabalho remunerado em fazendas e sítios da região. Houve ainda quem se dedicasse a atividades artesanais como a confecção de balaios, cestas em taquara e utensílios domésticos em madeira como gamelas e colheres de pau.
A partir de 1938, quando a ALCAN foi implantada no bairro de Saramenha, em Ouro Preto, a mão- de-obra pesada foi sendo ocupada pelos lavranovenses. Deste período em diante, eles passaram por uma melhoria de qualidade de vida, pois o serviço social da Companhia muito contribuiu para elevar o nível de saúde, conforto e educação da comunidade.
Hoje, Lavras Novas põe em prática a sua vocação turística, o ecoturismo. Além do seu patrimônio histórico, sua potencialidade natural é muito grande: cachoeiras, trilhas agradabilíssimas e locais para prática de rapel e cavalgadas. Assim, este destino está em alta desde 1995, atraindo um público diversificado, sobretudo, o jovem. De dia, a tranquilidade do contato com a natureza, à noite, a animação dos bares.
No mês de agosto, Lavras Novas se transforma: arrumam-se as casas e os terreiros, decoram-se as ruas, adquirem-se roupas novas. São as comemorações da festa de Nossa Senhora dos Prazeres, realizada na matriz no último domingo de agosto, e do Divino Espírito Santo, que dão vida ao Arraial. É a época em que os lavranovenses recebem, com simpatia inigualável, os entes queridos e os amigos que moram fora, além dos turistas.
Devido a esse potencial, Lavras Novas foi escolhida pela administração municipal de Ouro Preto para ser um dos primeiros locais a implantar o projeto de turismo rural e ecológico. Uma das medidas a serem tomadas é a limitação do número de carros e o fechamento de ruas, louvável iniciativa, pois é urgente que os municípios turísticos e de potencial turístico adotem medidas práticas que controlem o fluxo de visitantes e assegurem o desenvolvimento do turismo de forma sustentável.
No ano de 2005 Lavras Novas foi elevada a distrito de Ouro Preto.
Distribuído pelas lojas e pousadas, um cartaz lembra algumas regrinhas básicas de respeito que um visitante deve ter ao passar por uma comunidade.
“Lavras Novas é um povoado de gente simples e de costumes antigos, por isso, pedimos que respeitem o nosso jeito de ser:
Não ligando o som do carro em volume alto sem permissão dos moradores e dos turistas;
Não usando traje de banho nas ruas;
Não acampando nas ruas;
Não estacionando em cima dos nossos lindos gramados verdes;
Não jogando o lixo em qualquer lugar, principalmente nas trilhas;
Não transgredindo a lei do silêncio e do bem viver,
Obrigado."