'Só o Caraça paga toda a viagem a Minas' D. Pedro II - 1881
Um ermitão misterioso conhecido por Irmão Lourenço descobriu por volta de 1768, na capitania das Minas, nas proximidades da Vila de Santa Bárbara, um lugar perfeito para abrigá-lo. Começa, assim, a história do Caraça, um dos mais importantes patrimônios culturais do Estado de Minas Gerais. Conhecer o Caraça é conhecer um pouco da alma mineira.
Segundo a tradição, Irmão Lourenço era o caçula da tradicional família Távora. Devido à inimizade dos Távora com o todo poderoso Marquês de Pombal, foram supliciados e queimados em praça pública na cidade de Lisboa. O caçula teria conseguido fugir para o Brasil e chegado até a região das Minas, por onde peregrinou por vários arraiais e vilas até ter encontrado o seu 'paraíso'. Ali, como Irmão da Ordem Terceira de São Francisco de Assis, deu início à construção do Santuário de Nossa Senhora Mãe dos Homens e uma casa para abrigar religiosos e peregrinos. Irmão Lourenço faleceu em 1819, mas sua obra teve continuidade. A história do Santuário Caraça pode ser dividida em três fases, que o historiador Paulo Forte classifica como: o Caraça português, o Caraça francês e o Caraça brasileiro.
1ª fase - O Caraça Português - 1820 a 1842
No ano de 1820, chegaram ao Caraça dois padres lazaristas da 'Congregação da Missão no País', enviados por D. João VI. Era a primeira ordem religiosa a se instalar oficialmente na Capitania de Minas Gerais. Os padres Leandro Rebelo Peixoto e Antônio Ferreira Viçoso, com apenas 14 alunos, deram início a um colégio em 1821. Alguns anos mais tarde, começou a funcionar também o seminário. Apesar do título de 'Imperial', o Colégio não resistiu às perseguições que as instituições religiosas sofreram durante o Império. 'A campanha movida pela imprensa, pelos políticos e pelo próprio governo contra os 'frades estrangeiros' atinge especialmente o Colégio e seus padres: as famílias se retraem, caem verticalmente as matrículas dos meninos, as rendas da Irmandade se reduzem a cotas insignificantes.' (Carrato).
'...Questões entre Estado e Igreja que, ao longo do Império, tenderiam a enredar polêmicas e atritos crescentes. Mas é certo que havia uma reação aos padres do Caraça, considerados estrangeiros e 'jesuítas'. Os ataques vinham da imprensa e da Assembléia Provincial.'(Mariza Guerra)
O seminário teve que encerrar suas atividades em 1834 e o colégio foi fechado em 1842. A situação era tão grave, que os padres Viçoso e vários alunos fugiram para o triângulo mineiro, refugiando-se em Campo Belo da Farinha Podre, hoje município de Campina Verde.
2ª fase O Caraça Francês - 1854 a 1903
Em 1856, o Caraça foi reaberto tendo à frente padres Vicentinos franceses. 'O Caraça viveria sua época de ouro, como um dos mais importantes centros de formação e difusão da cultura e do pensamento humanista no Brasil do século dezenove.' (Paulo Fortes) Cerca de oito mil alunos estudaram no Caraça durante o século 19.
3º fase O Caraça Brasileiro - 1903 a 1968
No ano de 1905, foi fundada a Escola Apostólica Nossa Senhora Mãe dos Homens, com o objetivo de formar rapazes para a vida eclesiástica. Seis anos depois, o colégio para os leigos foi fechado. A partir de então, até 1968, a instituição funcionou apenas como seminário.
Na madrugada de 28 de maio de 1968, um pequeno fogareiro motivou um incêndio que destruiu toda a ala dos alunos e a biblioteca. Após este acontecimento, o Caraça nunca mais retomou suas atividades de seminário ou escola.
O Santuário é propriedade da Província Brasileira da Congregação da Missão*. A compromisso educacional se faz presente ainda hoje, pois ali está uma parte da história da educação em Minas Gerais. O Santuário é também um importante local de educação ambiental, constantemente visitado por estudantes e pesquisadores. Um "centro de espiritualidade e missão, de cultura e educação, de conservação ambiental, lazer e turismo". (Plano de Ação para o Caraça 2007 - 2012, p. 1)
O nome Caraça é referência a uma interessante formação rochosa que tem a forma de uma imensa cara de perfil. O melhor local para poder ver esta formação é da trilha que vai para Pinheiros e Banhos do Belchior. O formato da rocha nos dá a impressão que há um gigante deitado ali, basta observar para perceber o perfil de um grande rosto muito bem delineado pela natureza.
A energia, a paz, o aconchego e a história do Santuário do Caraça o transformam em um local muito especial para Minas Gerais. Uma de suas grandes atrações são os lobos-guará que todas as noites vêm comer nas mãos dos padres no adro da Igreja Nossa Senhora Mãe dos Homens.
'Teria escrupulos de vir a Minas e não chegar até o Santuário de Nossa Senhora Mãe dos Homens. Hei de voltar, Pe. Superior.' D.Tereza Cristina, Imperatriz do Brasil - manhã do dia 13 de abril de 1881.
O Santuário é tombado pelo IPHAN.
Livro Histórico - Inscrição: 309, 27.01.1955.
Livro Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico - Inscrição 015-A , 27.01.1955
Horário de visitação
Segunda à segunda: 8h às 17h
Entrada até ás 15h30 e permanência até 17h
*A Província Brasileira da Congregação da Missão (PBCM) é uma instituição católica, composta por homens consagrados (Padres e Irmãos) ao serviço missionário dos pobres. É parte da Congregação da Missão, sociedade de vida apostólica fundada por São Vicente de Paulo, no século 17, na França.
No Brasil, a Congregação da Missão possui três Províncias: Província Brasileira da Congregação da Missão (PBCM), com sede no Rio de Janeiro-RJ; Província do Sul, com sede em Curitiba-PR; Província de Fortaleza, com sede em Fortaleza-CE.