Histórico
Praticamente é inexistente a documentação sobre a construção da Igreja do Senhor Bom Jesus. O historiador Raimundo Trindade considera o iniciador da obra o Tenente José Ferreira, no ano de 1781. Aires da Mata Machado, baseado em documentos que pesquisou, afirmava que o templo começou a ser construído em 1785.
No forro da capela-mor, está a data 1797, o que revela o adiantamento das obras ao final do século.
Acredita-se que as Irmandades de Nossa Senhora das Mercês e de São Benedito se envolveram nos trabalhos de construção que duraram por muito e muitos anos.
1830 – A mesa diretora da irmandade queixa-se do estado de “ruínas” do templo.
1830-1845 – Obras de pintura, assoalhamento e assentamento dos altares da nave, construção de uma sacristia ao lado do Evangelho e reconstrução de outra ao lado da Epístola.
1874-1877 – Orçamento e projeto para reformas.
1886 – Notícias sobre a “reconstrução” patrocinada pelo Dr. Joaquim Vieira de Andrade.
1907 – A irmandade é obrigada a vender ornamentos e imagens para poder pagar consertos.
1918 e 1924 – Obras nas torres e telhados.
Na década de 1960 e 1970, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico (IPHAN) realizou serviços de restauração.
Arquitetura e decoração
Segue o partido retangular das construções religiosas mineiras do século 18. O frontispício é extremamente simples com torres retangulares, óculo redondo envidraçado e frontão simples.A decoração, bem ao gosto Rococó, confere-lhe atmosfera harmoniosa no seu interior. A talha dos retábulos provavelmente foi executada no fim do século 18.
O retábulo-mor, com suave policromia, possui cuidadoso acabamento. O camarim alto e amplo é decorado com um baixo-relevo da Santíssima Trindade e pinturas de dezenas de querubins. No trono, a imagem em tamanho natural de Jesus crucificado.
A decoração das paredes laterais e do forro traz pinturas de excelente qualidade. Para Rodrigo Melo Franco de Andrade, foi Silvestre de Almeida Lopes, artista de grande atividade na região do Serro e Diamantina, o autor desses trabalhos.
No forro da capela-mor, uma bela pintura em perspectiva aérea traz em sua composição um medalhão central e, ao redor, rocalhas, anjos e flores em vermelho, rosa e verde-chumbo. O medalhão retrata a lenda portuguesa do achamento da Imagem de Bom Jesus de Matosinhos. Acredita-se que essa pintura teve como influência e inspiração de uma gravura portuguesa. “Caracteriza a maneira desse artista, além de uma apresentação movimentada, densa, rica, dos elementos da composição, o ritmo curvilíneo que anima, de um mesmo impulso, os recortes dos contornos dos ornamentos, as nuvens, as ondas, as chamas, os festões de flores e encaracolado dos cabelos e barbas...seu estilo é inconfundível, exuberante, faustos, revela muita personalidade” (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, 1978)
No painel parietal, de um lado, a cena da Adoração dos Pastores, ladeada pelos evangelistas São João e São Mateus. A Visita dos Reis Magos do outro lado é ladeada pelos Evangelistas São Lucas e São Marcos.
A Igreja de Bom Jesus de Matosinhos possui uma imaginária de boa qualidade nos retábulos laterais – Nossa Senhora das Mercês, Santa Ifigênia, São Roque, São Benedito, São Brás, São Crispim, Santo Antônio de Categeró.
A lenda de Bom Jesus de Matosinhos
Duas lendas invocam a origem da devoção ao Bom Jesus de Matosinhos. A primeira remonta à época em que a Península Ibérica era dominada pelo Império Romano. O preposto de Roma na península era Caio Carpo. No dia dos festejos de suas bodas, que estavam sendo realizadas às margens do rio Douro, apareceu próximo à praia uma misteriosa embarcação que levava o corpo de São Tiago para Compostela, na Espanha. De repente, o cavalo que Caio Carpo montava foi caminhando sobre as águas em direção à embarcação. Nenhum mal aconteceu ao cavalo nem ao cavaleiro. Naquele momento se dava a conversão de Caio Carpo ao cristianismo. Os que presenciaram a cena também se converteram, e teriam sido eles os responsáveis pela cristianização da Lusitânia. O local do evento seria mais tarde denominado Matesinus, Matusiny e, finalmente, Matosinhos. A devoção ao Bom Jesus teria nascido no local onde a fé cristã teve seu início nas terras portuguesas.
A segunda lenda conta que, por volta do século II, apareceu na praia de Matosinhos uma imagem do Cristo crucificado, porém, sem um dos braços. Mais tarde, esse braço apareceu junto a madeiras e galhos que foram dar à praia. Recolhida pela população local, que providenciou uma capela para guardá-la, a imagem foi ganhando fama de milagrosa em toda a região.
Historicamente, a devoção ao Bom Jesus tem sua explicação nos primórdios da história portuguesa. Em um antiquíssimo mosteiro de monjas beneditinas, na localidade de Bouças, venerava-se com ardente fé a imagem de um Cristo Crucificado. Com o passar dos anos, o mosteiro entrou em ruínas, mas a devoção já havia criado fortes raízes na alma portuguesa. A Universidade de Coimbra assumiu a construção de um novo templo para abrigar a imagem. O local escolhido foi o de Matosinhos. Em 1550, a igreja já se encontrava pronta, e a imagem entronizada. Por causa do novo local, ela começou a ser chamada de Bom Jesus de Bouças de Matosinhos.
A igreja é tombada pelo IPHAN
Registrada no Livro de História
Inscrição nº 229
Registrada no Livro de Belas Artes
Inscrição nº 296
14 de janeiro de 1944