Continuação...
- XXXI -
Como viverá
o casal de onça
que habita o caminho
que vai pra Serro?
Na certa é protegido
pela Rita que apanhou a canga
e sumiu
no mundo
num disco voador.
- XXXII -
Por causa
de umas orquídeas
florindo
numa ruma de Jussara (prima do açaí)
segui uma trilha
aparentemente errada
(nas Gerais
onde o povo
tira leite de pedra
nem tudo que é
acaba sendo)
e fui bater palmas
pra pedir água e direção
na casa de Dona Zilda
em cujo o terreiro
a vassoura passou
de pouco.
Me serviu água
e ofereceu comida
já no prato
(foi um custo
Caminhante
fazer tamanha desfeita).
Aceitei café
E vi os pés.
Da roça
o seu marido
chegou cansado
de uma moléstia
no coração
e anda amuado
por não pegar
no pesado.
(Será excesso de gordura
que causa tanta amargura
aos homens e mulheres
do caminho?)
Segui a trilha
guiado por um cão
ensinado.
Voltou
quando
avistamos
as luzes de Serro.
- XXXIII -
No coração do Espinhaço
a lua desceu caminhante
e foi com as estrelas
pra festejar na Praça de Serro
a chegada dos tropeiros
e caminhantes
dessa Expedição
guiada por corações
sonhadores
e ritmados
no mesmo tempo
do aprendizado
vivente
que acredita ser nascente
a Universidade da Estrada.
- XXXIV -
Se você passar
por Milho Verde
onde tudo é verdejante
vá na casa do Zoca
comer pão e bolo de milho
feito por uma anja
que mora por lá.
E vá se alegrar
com a visão
da primeira placa
(depois de tanto chão)
dizendo que o meio ambiente
começa no meio da gente.
Em Milho Verde
onde o povo
não envelhece
e a água das cachoeiras
é benzida
(e protegida).
- XXXV -
O chão de São Gonçalo
é de pedra
polida
dos rios
da memória
e onde o povo faz a história
do jeito que pode
e quando não pode
se sacode
na academia das idéias
que é o Bar do Pescoço.
Por aqui
o artesanato é um fato
da tapeçaria ao vinho
do urucu à gelatina
do pão à pintura
entalhe e gravura.
Toda criança
pinta e borda
no tempo que sobra
do trabalho em família.
Em São Gonçalo
o que vale
é o experimental
dessa universidade
que não tem dono
porque já nasceu
livre sem tutela
e sem tutor.
- XXXVI -
Até onde o Boa Vista
Alcança as luzes de Diamantina
cruzam a retina
no mesmo veio
por onde a emoção passeia
e dança
e fala
e canta
e chora.
Amanhã
o antigo mercado
será o palco da Tribo
(que usa o coração na cabeça)
mulheres, homens
crianças e animais
no olhar mais atento
bem perto da curva do vento.
Amanhã
não haverá
mais lonjura
e tantas outras distâncias
já esquecidas.
Por enquanto
acompanhamos a lua
falando da vida
com as almas lavadas
de esperanças
por sentir
que a maior
riqueza das Gerais
é o seu povo
que teima em existir (na paisagem).
Amanhã
sentiremos tantas saudades
que voltaremos
pelos mesmos caminhos
onde eu possa
te encontrar
onde eu possa
te encontrar.